Quem o viu chegando ao palco do IFMG Ouro Preto, no dia 20 de novembro de 2017, para se apresentar na Semana de Cultura Afro do instituto, não imaginava a profundidade de suas letras cantadas com um ritmo tão suave.

Raphael Sales carrega consigo um talento indiscutível: além de ser músico autodidata, compõe músicas que denunciam problemas sociais do país. Aos menos atentos, parece ser um show (e que show) de voz e violão, ao estilo de Caetano e Gil. Porém, ao longo das pausas que ele faz para contextualizar suas composições, os espectadores percebem que não há nada de tão comum na apresentação: pelo contrário. Ela causa estranheza por tratar de uma forma tão nua temas como o racismo, o preconceito e o funcionamento do sistema capitalista.

Uma das músicas que chama atenção é “Rolezinho”, que descreve cenas vividas cotidianamente pela população negra brasileira. Ela evidencia uma realidade latente: a de que o racismo está mais presente nas coisas “banais” do que nas grandes atitudes.

“Sempre tem alguém desconfiado na frente ou do meu lado (sempre tão desconfiados)

numa porta giratória na padaria supermercado (sempre tão desconfiados)

classe de suspeito e a fisionomia de culpado (sempre tão desconfiados)

 

É comum na C&A Casas Bahia também

ou armazém ninguém me quer lá

No Banco do Brasil no Itaú Mercantil

não vou fazer refém só depositar

 

A senhora agarra a bolsa com o olhar todo acuado (com o passo apressado)

o homem de farda grita “mão na cabeça favelado” (sempre muito bem armado/ sempre  

tão mal educado)

 

Loja de celular mesmo com notas de cem

alguém já vem querer me vigiar

O segurança me viu

olhou bem de um jeito sutil

porém nós somos do mesmo lugar!”

Além de tratar sobre o racismo, sua experiência como metalúrgico o fez compor uma canção chama “A Fábrica”. Quando começou a tocá-la, o sinal da escola, anunciando o fim de mais um horário de aulas, tocou, e ele incitou a reflexão sobre o caráter fabril das escolas brasileiras, muitas vezes interessadas na formação intelectual acima da humana e cidadã.

Lançando um disco autoral em breve, Raphael figurou um dos momentos de reflexão mais importantes da Semana de Cultura Afro e lembrou-nos brilhantemente que a música é uma das ferramentas mais importantes de crítica social da atualidade.

Ouça as músicas de Raphael em seu canal no Youtube: https://www.youtube.com/user/raphaelsaless

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